segunda-feira, 30 de abril de 2012

Introdução

Queria resumir em poucas linhas o que foi e ainda é minha história. Fazer uma introdução. Mas não seria ela muito complexa para ser colocada aqui em menos de 100 páginas? Uma pequena introdução para algo que vivi nos últimos duzentos anos? Se é que quem se importaria? Quem se importaria com a vida de alguém tão problemático que passou a vida inteira tentando esconder seus desejos, mascarando sua própria alma e lutando contra suas milhares de personalidades interiores.

Talvez, se eu tivesse que resumir minha vida, entraria num paradoxo com as duas palavras: amor e ódio. Quem sabe com um acréscimo de poder? Uma vida inteira entre os conflitos de meu coração e de meu orgulho. Um conflito onde o ódio prevaleceu. Sempre prevaleceu e, conciliado ao orgulho, encheu minha vida de frutos(negativos): seguidores, pessoas aos meus pés e que jamais deixariam de cumprir minhas ordens, além da conquista de tudo o que eu quisesse. Todos me temiam. A vida onde o amor não faz diferença, pois sequer é capaz de chegar. O amor é simplesmente menosprezado, pois não precisa ser sentido e não deve ser sentido. Em outras palavras: o mundo da minha perdição. Um lugar onde algum dia eu quase me afoguei, sendo salvo por um triz. Um triz da luz da única pessoa que eu amei de verdade. A única que existiu para mim. Se exagero? Podem até ter existido mais, porém em tempos distantes há tanto tempo esquecidos( será?). No entanto, nem assim pude escapar. Se eu pudesse voltar, se eu pudesse destruir algo que ainda guardo em meu interior, sofrendo por uma escuridão que jamais vai embora, eu teria escolhido amar. Se eu pudesse entregar-me a isso, não teria que escrever essa introdução sobre tudo o que perdi. Tê-la em meus braços agora seria muito melhor do que ter que desabafar com um folha amarela e que eu gostaria de amassar neste exato momento por já deter sobre mim muito mais do que qualquer pessoa no mundo já deteve. ... Não dizer nada sobre minha alma... Esse é o meu desejo. Meu maior desejo é que jamais saibam... Ah. Mas ela sabia. Ela sabia demais, apesar de eu sempre ter tentando guardar uma parte. Ela sabia praticamente tudo sem que eu precisasse dizer, porque ela queria me entender. Ela queria me ajudar... E não me amava.

Como a única pessoa no mundo que queria me entender nunca me amou? Eu queria entender. Queria obsessivamente entender. Queria desesperadamente entender as pessoas! Porque quem sabe se eu soubesse o que se passa no coração delas eu encontraria o reflexo de mim mesmo? Quem sabe nos outros estariam escondidos as implicações de qualquer uma de minhas decisões? Viver não tem manual e isso me intriga. Quero um livro que diga as informações que necessito, mas por mais que eu folheie e procure, onde está escrito? Onde está escrito a continuação de minha história? Onde estaria escrito os sentimentos dela? Onde estaria escrito os passos necessários a andar para que eu a tivesse? E para que eu fosse o mais poderoso? E para que essa dor e esse ódio deixassem de me consumir? Para que eu perdesse isso que enegrece meu coração? E para que todos me respeitassem? Eu queria, não sei mais. Não sei mais o que fazer para viver. Dessa maneira...

Cansei. Viver... O que é viver? Uma mera ilusão. Uma mera ilusão de minha mente perturbada. Não sei sequer se estou vivo. Para que? Tanto faz. Quero entender a vida. Ah! Se quero! Os livros pelo menos me ensinam isto. Os milhares de livros em minha biblioteca já me ensinaram muito. Quando não sei mais o que fazer? Leio-os e entendo o mundo. Esqueço as frustrações. Através do conhecimento esqueço o que me mata. Esqueço os sentimentos que me sufocam. Através da racionalidade... Se é que a tenho. Será que a tenho? Para alguém que escreve palavras como estas em um papel? Será que existe tal racionalidade capaz de me fazer esquecer dos sentimentos? Um ser tão obcecado é capaz de ser racional? Manipulador. Conhecimento pode me tornar um manipulador. Também não sei. Conhecimento me faz melhor do que os outros... Será? Ela não me amou por isso. Não me ama até hoje por isso. E quem é ele? O garoto que ela ama? Tão ingênuo. Eu seria melhor. Seria muito melhor... Mas amor não se compra. Como eu compraria? Queria que sentimento fossem possíveis de se vender, de se apagar, de se destruir quando se deseja. Mas esse amor que come meu coração e queima todos os meus pensamentos não é vendível, não é comprável, não é esquecível. Simplesmente existe, machuca, me faz querer sufocar-me. Faz querer destruir-me...

E para onde foi a introdução? Ah. Eu acredito que isto foi a melhor que eu poderia ter feito. Porque é a introdução do que é minha alma. Quem a entende? Nem eu! Porque não está em livros, não está no mundo, não esta sequer nesta folha de papel amarelada. Está em um canto isolado de minha existência que eu mesmo jamais atingirei. Está escondida, mascarada. A introdução que, por mais que alguém a procure, jamais encontrarei. Por mais que eu mesmo a deseje, estará para sempre apagada, borrada, escondida num mundo que nem os sonhos jamais alcançarão.

Ass.: ....

(Pedaço de papel encontrado dentro do lixo. O nome não estava assinado)

Nenhum comentário:

Postar um comentário